sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A viagem de metro

Enquanto chove lá em cima,
Eu desço as escadas
E apanho o metro.
Há corrente de ar.
Na cadeira da frente
Vai a mulher e o desespero
Depositado numa raspadinha.
Ao lado,
Num mundo à parte,
A saga dos doces a gastar bateria à chinesa,
Que se desequilibra na saída.
Primeiros dias de um novo ano,
Primeiros dias da mesma viagem.
O metro sempre a horas,
A porta abre,
O vento entra
E o olhar fica para trás.
Foram só 2€ de azar.

sábado, 12 de outubro de 2013

Ir e voltar

"No one realizes how beautiful it is to travel until he comes home and rests his head on his old, familiar pillow." Lin Yutang

Como a citação sugere, vou escrever sobre...viajar!
Os meus sintomas de viajante começam na noite anterior, enquanto faço a mala. Quando realmente me dou conta que em poucas horas estarei a caminho de um lugar desconhecido, seja por quantos dias for, onde tudo o que vou ver vai ser novidade e que de tão novo que vai ser me vou esquecer totalmente do momento em que me apercebi disso, entro num estado de ansiedade pura. Parece que já comecei a viajar mas não sei para onde, como se o meu cérebro tivesse congelado no aeroporto à espera que chamem pelo meu voo e ao mesmo tempo me mantivesse no conforto do sofá. No dia da partida sinto-me cética em relação à própria viagem: de certeza que vou mesmo viajar? Juram que vou entrar naquele avião e aterrar a uns bons quilómetros daqui? E este bilhete na minha mão? De certeza que é de hoje e meu? Bom, mais próximo da hora todas estas questões evaporam, chega a apatia e pronto, abrem-se as portas de embarque. Até aqui, o meu principal entusiasmo centrava-se na viagem de avião. Depois, já a muitos metros de altitude, tenho tempo suficiente para me consciencializar que o mesmo avião onde estou sentada, a apreciar a incrível paisagem acima das nuvens, afasta-me da rotina e traz-me novos caminhos.
A viagem que até hoje (não que eu seja experiente em viajar para o estrangeiro, até porque só o fiz 3 vezes) mais me entusiasmou foi, sem qualquer dúvida, a de ano passado, 2012, a França! Mas não foi só a "França da Torre Eiffel", foi a vários locais desse país que, de tão simples, me deixaram apaixonada (com direito a Luxemburgo). É incrível como as coisas mudam de fronteira em fronteira. Cada viagem de carro que fazia deixava-me sem palavras e sem conseguir pensar direito no que me estava realmente a acontecer. Desde o nordeste, a Paris e ainda a Strasbourg. É quase impossível eleger qual o melhor!


Metz

Aqui vivem familiares meus e aqui foi onde passei mais tempo. Tive tempo de conhecer esta cidade incrível, tanto de dia, como de noite. Vale mesmo a pena e aconselho a quem gosta de andar para conhecer de perto tudo aquilo que uma cidade tem para oferecer. Os monumentos, a história e as paisagens unem-se e criam uma enorme satisfação pessoal. Como é óbvio tenho bastantes fotografias de todos os sítios, mas só irei mostrar algumas.


Saint-Étienne de Metz ou Catedral de Metz. É avistada de vários pontos da cidade e contém uma torre que está entre as maiores do mundo. Possui ainda a maior extensão de vitrais do mundo!



Strasbourg

Situada no leste de França, é conhecida como uma das capitais europeias, devido às diversas instituições europeias que possui. É uma cidade com bastantes estudantes universitários e com paisagens incríveis. Desde a sua catedral de arquitetura gótica às ruas que acompanham os 5 braços do Rio III, tudo cria um ambiente bastante agradável de se conhecer.




Por enquanto, este post reduz-se apenas a uma pequena introdução mas, brevemente, terei aqui um álbum com muitas outras cidades por onde andei. O único motivo porque decidi fazer esta publicação está no facto de eu ter gostado imenso desta viagem e de querer partilhar os incríveis sítios que tive a oportunidade de conhecer. Em poucas palavras: valeu mesmo a pena!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

domingo, 13 de novembro de 2011

Words for the Storm



Já chegaste. Se podias vir, se agradaste aos que te queriam cá, isso não interessa. Trazes contigo luzes e aparato, sem deixar para trás o som que estremece as almas; estás por perto. Usas corpos escuros que se zangam por entre as lágrimas, dos outros que se expressam, de que te fazes acompanhar, para promover a tua força e te instalares num mundo de onde ninguém te pode expulsar.
Rasgas os céus com reluzentes traços e manchas uma parte, coberta por mágoa, com melodias que ultrapassam o tempo e avançam de forma inesperada. Estás cá, sem querer. Assustas quem, num momento solene, serra o olhar e despertas a atenção das visões atentas daqueles que, pelo canto do olho, quase te viram, mas já era tarde demais. Não vais embora; sem antes estares presente nas horas em que os que cá estão se unem para trocar moedas em forma de embrulhos com diversos laços aliciantes ao estado de espírito de cada um, para dizerem todos juntos que o ano já não terminará da mesma maneira e o último algarismo evolui para um outro patamar acima e, quiçá, para se vestirem a rigor e usar outras caras, num dia em que as bolinhas de papel coloridas, pelas mãos mais pequenas, se espalham nas calçadas das ruas, sem dó nem piedade, pois há que celebrar o dia em que alguém mostra um lado seu inexistente. Já deve estar a chegar a altura de partires.
As cores que cobrem os campos estão aí a chegar, prontas a disfarçar o que a tua branca e reluzente expressão quis deixar marcado. Elas vão crescer e perfumar os sorrisos dos que sobreviveram ao cheiro das lágrimas que a ti se juntaram; unidas com o barulhos dos pássaros vão baixar o volume do teu grito de desespero, vão clarear o ambiente escuro que cá deixaste. Foste embora. Mas deixaste para trás as tuas pegadas na terra molhada e desenhaste um caminho que começou aqui e irá acabar quando, de novo, as folhas de jornal, com as notícias mais antigas, esquecidas no tempo e apagadas da memória, envolverem as castanhas e escurecerem as mãos dos que vestirem camadas de roupa para se protegerem das lágrimas e do sopro frio que move corpos, cinzentos e carregados, que se zangam, assim que tu chegas, mais forte e pronta para repetir tudo.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

percebe quem sou. (percebe-te)


Tu és o que eu oiço, todos os dias, no meio de palavras que eu guardo e monólogos interiores. Fazes isto tão naturalmente, mais ou menos da mesma maneira que respiras, retirando qualquer hipótese de problema respiratório, só que de uma forma menos discreta. És a confusão entre a caneta e o papel, as teclas e o blog. Eu partilho com o mundo o que tu me contas entre as linhas. Os teus olhos sao criticos e exigentes. A tua palavra é silenciosa e é a melhor amiga da tua mão. O mundo que te rodeia pode não te compreender, mas eu compreendo, pois és tu que me crias e me transformas no mais belo conjunto de ditos feitos. Tu mostras ser aquilo que eu, através de ti, transmito. Eu sou a versao exposta e reduzida de ti mesma. Tu és a responsavel por tudo aquilo que eu sou. Tu és quem escreve. Eu sou um texto com cento e oitenta e quarto palavras e vinte e seis sinais de pontuacao. E se assim sou, foi porque tu, de alguma forma, assim o decidiste.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A ti, anjo perdido.


Julgo ser rei
a amar sem vontade.
Não, se perdoei
tua liberdade.
Ai destino, voaste
pr'aqui não ficar
sobre cada olhar
que já magoaste.
São cartas de mim
para todo o teu ser.
Se encontrei o fim
é o que estás a ver.
São muitas perguntas
sem qualquer razão,
as respostas vão juntas
do sim ao senão.
É branco o papel
que faz aparecer
o que em forma de anel
já se viu nascer.
Conversa trocada
"olá, tudo bem"
quem és tu, camarada?
sou quem me convém.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Num abrir e fechar de olhos.


Sonhei.

Parecia incrivelmente real e, por isso, fiquei tranquila. Era um mundo vazio, viva-se num anonimato, na esperança de ver as estrelas. Havia muito ruído, o ambiente à minha volta estava completamente paralisado, com os olhares focados em mim e eu podia mexer-me. Por instantes, as pessoas tropeçavam em cada passo que davam mas erguiam a cabeça com a maior força que tinham. Sentei-me a observar o que não dava para ver; tudo aquilo era estranho, era surreal. Cada um seguia com a sua vida para a frente e derepente, paravam. Reproduzia-se uma sensação de angústia. Queria entender, mas não me entrava na cabeça todo o processo de vida que existia naquele mundo. De noite, quando eu decidi descansar, parei e encostei-me a uma árvore. Franzi os olhos e observei o céu. Percebi que à distância de um olhar estão outras dimensões, outras partes da vida que não me compete a mim entender. Fechei os olhos e adormeci. Naturalmente, sonhei. Deu para compreender: eu protagonizei aquele dia. Acordei de manhã, abri a janela, olhei lá para fora, senti o arrepio no braço, arranjei-me, comi, saí de casa e fui para a escola. Quando lá cheguei, já tinha um sorriso no rosto, entre beijinhos e abraços, só pensava nas horas e nas aulas que iria ter. Começou a rotina, algumas horas sentada e depois, tempo de voltar para casa. Fazer o caminho inverso, mas desta vez, sem a luz do dia por perto. Chegar a casa, conversar com a familia, contar as novidades e ir para o quarto. Jantar, conviver na sala e por fim, ir dormir. E foi aqui, neste preciso momento, quando ia dormir, que acordei assustada, com uma sensação de nunca mais querer fechar os olhos. Depois deste sonho, acordei e só tinham passado 2 minutos. Levantei-me, desencostei-me da árvore e debrocei-me sobre o espelho de água de um lago, num jardim. Fui eu que, naquele momento, ousei encarar-me de frente, sem quaisquer medos. Parei naquela imagem e, num instante, levei-me para os céus. Eu, as estrelas, a lua e nada mais. E acordei. Queria só perceber, porque é que num abrir e fechar de olhos, tudo muda?

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

water drop

Há lágrimas que dizem aquilo que sou, que reflectem o que eu não quis ver, que saem quando eu menos espero e agarram-se completamente ao passado. Há aquelas que eu deito cá para fora, que me fazem sentir livre de mim mesma, que roubam o que eu nunca guardei de forma justa dentro de mim e que mostram caminhos que eu abdiquei. Abandonam o mundo delas, saem cá para fora, sem como nem porquê; e são capazes de voltar e trazer com elas aquilo que só eu, em outros tempos, deixei para trás. Sou eu que acabo por sentir se é algo real ou se simplesmente criou ali uma memória que agora para nada me serve, apenas sugere um novo capítulo, desta vez sem guião, sem estereótipo de personagem, onde quem diz a primeira fala sou EU.

sábado, 11 de dezembro de 2010

"e cada um tinha o seu lugar na camioneta, assim como na vida..."


Grande viagem. Vários caminhos se cruzaram pela frente.
Cheguei e fui recebida pelo nevoeiro nocturno, por uma brisa silenciosa que deixava a sua sensação fria no meu corpo. Eram visíveis as nuvens por baixo de mim e acima do rio. O sossego de cada passo unia-se à tranquilidade de cada imagem, da lua reflectida na paz do leito do rio; as suas águas escorriam degrau a degrau, com uma única direcção, formavam o espelho da cidade.. Cada ponte que se atrevia a cruzar o caminho do rio, tinha a sua própria característica, mas todas possuem algo em comum, todas nos guiam para lá de cá.
Pela manhã, era abrir os olhos e guardar os sorrisos que se encontravam pela cidade; era partilhar da alegria que todos viviam; era dar lugar à luz do sol que se escondia por entre as nuvens; era passar por grandes copas de árvores que cobriam partes da cidade, como que uma protecção de ramos majestosos e folhas de mil cores; e passar o dedo sobre a camada de geada que se fazia notar em cada superfície. Por entre palavras de simpatia, rasgavam-se sorrisos no rosto de cada um. Novas conversas, novos assuntos, outras novidades eram faladas enquanto se observava a particularidade de cada casa, o estilo de cada prédio. Era um ambiente novo; eu não era de lá, mas sentia-me lá.
Uma viagem e cada um tinha o seu lugar na camioneta, assim como na vida; lugar esse definido num papel, lugar esse oculto na voz de cada um de nós.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Palavras rasgadas.


É fácil falar,
fácil agir,
fácil gritar.
Mas o que sentir?
Já pr'a não falar
sempre que fugir
ao nascer do luar.
Já não sabes onde ir,
onde queres ficar
sem teres que mentir
nem outros magoar.
Só podes distinguir
o que não dá pr'a passar
do que, ao adquirir,
te permite voar
sem saber de onde vir.
Tu podes subir
a qualquer lugar;
Sem teres que cair
podes levantar
o que deixaste partir
sem acreditar
que até para rir
tens de o agarrar.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Hello World.


Quero dizer "olá" ao mundo, mas ele não me ouve. Deve estar demasiado ocupado em dizer "olá" aos outros. Não é que eu ache que ele me virou as costas, mas gostava de conversar com ele; perguntar-lhe se está tudo bem e se não se sente cheio e desequilibrado. Ás vezes tenho esta necessidade: não falar com ninguém, mas também não ficar calada. Contar-lhe tudo o que vejo, partilhar com ele memórias e imagens. Mostrar-lhe que maior que eu, só as minhas perguntas. Mesmo que ele não me responda, era bom que me ouvisse.
Mas na altura em que estamos, não sei se iria conseguir ter uma conversa com o Mundo. Talvez eu o oiça a chorar e lhe pergunte "O que se passa?" e ele não me responda. Quando isso acontecer eu perguntar-lhe-ei de novo "O que se passa?" e ele responder-me-à que nada se passa. Mas se nada se passa, é porque passa-se tudo. Pelo menos eu nunca soube de nada que fizesse chorar. Se há um "nada" que faça chorar, há um "tudo" que faça rir. Por isso é que agora é "tudo ou nada"!

Quem disse?


- Sabes de alguém que possa voar?
- As pessoas não têm essa capacidade.
- Não foi isso que te perguntei. Eu perguntei se sabes de alguém que o possa fazer?
- Não, porque uma pessoa não o consegue fazer.
- Como é que sabes ?
- Sabendo. Toda a gente sabe isso.
- E quem lhes contou ?
- Ninguém em concreto. Os estudos da ciência e da morfologia humana comprovam-no.
- Quem são esses ?!
- Esses ?! A Ciência não é ninguém ... Chama-se ciência a qualquer reconhecimento.
- No outro dia, eu quase que não reconhecia a minha prima. Ela está diferente. Isto quer dizer que eu não tenho Ciência?
- Oh! Não sei como te explicar ...
- Eu também não.
- Mas uma pessoa não consegue voar e a ciência não é uma pessoa.
- ENTÃO A CIÊNCIA VOA ?
- Não, a ciência também não voa. Só os pássaros voam.
- Então quando for grande quero ser um pássaro.
- Mas tu não podes ser um pássaro.
- Porquê ?
- Porque és uma pessoa.
- Quem disse ?